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Costumo chamar de trevo aos tercetos independentes (ou destacados).

Gostaria que se desse o nome de trova às quadras independentes (ou destacadas), sendo, no Brasil, a trova concursável a de sentido completo, setessilábica, rimando o 1º com o 3º verso, e o 2º com o 4º verso.

Dou o nome de trevo personagem ao poético

Vai bola de meia
lua cheia de trapinhos
no meio da rua.

Armando Nogueira

O trevo personagem é o que expressa, aqui e agora, os sentimentos e introspecções do povo no seu dia a dia (trevo senriu) que Karai Senryu (1718/1790) selecionava, do haicai e do maecusuque (quioco), os versos do meio, ou seja, as porções tsuquecu, onde um poeta junta um remate à estrofe anteriormente dada (maecu) por outro.

Incluiria nestes os que citassem também aqui e agora quaisquer outros entes que por si só não situem uma sazão determinada, como é o caso da bola de meia finalmente redescoberta de seu longo abandono...

O haicai é uma poesia encadeada (5-7-5, 7-7, 5-7-5, 7-7 ...) feita por dois ou mais poetas em seqüência. Difícil o dicionário ou a enciclopédia que explique isso. Na nossa língua só conheço um único haicai de 36 estrofes (casen), composto no Brasil em 1994 e constante em Natureza – Berço do Haicai – Kigologia e Antologia, de H. Masuda, Goga/Teruko Oda. Neste haicai, aliás, não há seqüência de autores.

Desconheço haja traduções de haicais originais da época de Bashô. Aliás, foi nesse momento que o haicai tornou-se poesia digna desse nome. Seria bom que, traduzidos, fossem explicados cada passo de suas regras, e análises das estâncias. Sua prática não deveria ser feita por selecionador, a cada passo, como foi feito esse único haicai que conheço, mas sim que o mestre orientasse a cada poeta na sua respectiva vez de fazer a estância. Acredito que só com esse sistema de prática, o haicai possa deixar de ser algo esotérico e vingue...

Depois da morte de Bashô (1644-1694) até hoje, a coisa degringolou. Bem verdade que Buson (1716-1784) lutou para manter elevada tal arte... Mas, infelizmente, centenas de tercetos independentes ou isolados são editados continuamente no Brasil e no restante do planeta com o nome de haicu ou haicai, querendo dizer haicu... não contendo nada de nenhum dos dois!... Pensamos erroneamente, como bons ocidentais, que o principal num haicu é sua estrutura (5-7-5 ou menos), quando esta, pouca importância tem, mas sim o conteúdo desse tipo de poesia. Seu conteúdo o define, não a métrica.

A primeira estrofe do haicai (hocu) tem como personagem principal a palavra da estação (quigo) registrada no momento da ocorrência – o poeta marca no hocu a sazão em que se encontra. Como um negativo de um filme, a sutileza de seu texto e o corte contido nessa poesia (nem tão próximo, nem tão distante do texto anterior), é que despertará no leitor ou espectador (cópia fotográfica, no caso) algo em nós adormecido. Portanto, o poeta elimina, entre outros, cenários de forma analítica, recheios de sentimentalismo vazio, idéias preconcebidas, explicações, pensamentos, opiniões, redundâncias, adjetivos. Por causa de tais eliminações, o hocu, sem elaboração mental, para nós ocidentais é fácil de entender, mas muito árida a percepção e feitura do mesmo. O poeta poderá sugerir e fazer despertar uma evocação no leitor, mas nunca de forma explícita. Se o fizer, empobrece-o.

O hocu (literalmente estrofe inicial) era e é a partida para o encadeamento de estrofes conhecido como haicai, e nada tem a ver com os demais tercetos do mesmo.

Seleções de hocus foram feitas e os poetas passaram a fazer essa 1ª estrofe, isoladamente. Em 1892 Masaoka Shiki (1867-1902) batizou-a então de haicu (hai de haicai; cu de hocu). O trevo haicu, deriva pois da independência da primeira estrofe do haicai, com seus mesmos princípios de conteúdo.

O hocu devido a sua própria função no encadeamento, tornou pois o haicu um trevo aberto e sem rima (a trova concursável é fechada e rimada), daí considerarmos o haicu a mais antiga poesia moderna do mundo.

O haicu é um poemeto popular, com palavras do quotidiano e de fácil compreensão, exigindo consciência e realidade. A emoção ou sensação sentida pelo autor é só sugerida para que permita ao leitor reacontecer essa emoção por si mesmo já vivenciada, concluindo assim o haicu à sua maneira. O leitor, pois, através da sutil sugestão do autor, desperta o em si adormecido e reacontece a poesia.

Não custa repetir: na prática, o haicu é facílimo de entender seu conteúdo, mas difícil de se o dominar. *

Além do trevo personagem e o trevo haicu, incluo também o trevo à ocidental.

Veja alguns exemplos.