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EL JAIKU EN ESPAÑA
Pedro Aullón de Haro

Seguramente a poesia ocidental não produziu (resultaria impensável como conseqüência de nossas estruturas mentais e nossa cultura) nenhum mecanismo lírico comparável à qualidade do substancial que habita no haicu, forma poética de guia secular silábico 5-7-5.

Sua brevidade é concebida como essencialização de sensações em direção única, deixando de lado a intelecção e projetando ao mínimo a personalidade do autor sobre o feito poético. Realiza mediante livres palavras a fixação perceptiva de uma realidade, e sempre em intenção, não em extensão. O haicu trata de uma vivência que se fundamenta em iluminações propiciadas por um estado mental capaz de potenciar uma compreensão profunda no instante. Provém ainda assim de um entendimento religioso da vida. Para uns, haicu = satori. Pessoalmente, penso mais adequado falar de “consciência de si”, que ademais conta com o apoio da terminologia psicológica e já foi conceituação utilizada por Hegel na Filosofia do Espírito. Sucede que haicu e budismo Zen se acham muito ligados, até o ponto de que é este âmbito de espiritualidade o que potenciou suas melhores manifestações, madurou-o para a individualização e produziu o maior poeta do gênero: Bashô (1643/1694), quem o explicou dizendo que é aquele que ocorre neste preciso momento. Sua obra funde dentro de um denominador metafísico, o permanente, o temporal e a natureza.

A estrutura interna do haicu se realiza através de uma unificação da experiência que se manifesta mediante dois pólos de fricção cuja extensão ou conjunto produz a conseqüência última, amiúde implícita. É uma poesia que sugere e, se explicita em demasia, deforma sua qualidade expressiva. Precisamente a caracterização da sugestão é o que dificulta em excesso uma autêntica expressão haicuísta ocidental. Por outra parte, a lucidez de sensação e espírito predominante neste tipo de poesia pode ser conclusão de oposições não relevantemente polarizadas. Em efeito, com freqüência a comparação é interna, ao qual contribui sem dúvida um rigoroso sentido econômico para com os elementos que funcionam no texto.